Textos teatrais censurados durante a ditadura militar no Brasil, entre os anos de 1964 e 1968, ganham luz no espetáculo cênico-musical Vozes Veladas, que propõe uma imersão crítica e poética sobre o período da repressão até os dias atuais. A primeira apresentação será no dia 29/8, às 20 horas, no Teatro de Arena Rosinha Mastrângelo (Av. Pinheiro Machado, 48, Vila Matias, em Santos), com entrada gratuita e retirada de ingressos 1 hora antes no local.
A montagem é uma realização do Coletivo (a)gente em parceria com a Cipó Produções, cujo projeto foi contemplado pelo 11º FACULT – Concurso de Apoio a Projetos Culturais Independentes, da Secretaria de Cultura de Santos (Secult).
A artista visual, pesquisadora e educadora Natália Brescancíni, que faz a produção executiva e está em cena, detalha que o espetáculo trata da censura desde o início da colonização do Brasil aos dias atuais, a partir do resgate de textos que foram vetados. A apresentação é resultado de uma pesquisa ampla sobre a censura, que desvendou obras que foram proibidas, como forma de celebrar a resistência artística.
História e ficção
O espetáculo tece uma dramaturgia entre a análise crítica e a narrativa ficcional, com o uso de elementos heterogêneos: análises históricas, textos líricos, dramáticos, biográficos, narrativos, plásticos e musicais. “É uma criação coletiva, com uma dramaturgia única e músicas originais inéditas. Uma espécie de colagem de linguagens que resgata obras proibidas e vozes silenciadas, aborda a censura contemporânea e promove o debate sobre liberdade de expressão e o acesso à cultura numa sociedade democrática”, detalha ela.
Vozes Veladas transforma o palco num caleidoscópio de conteúdos, informações e emoções, mesclando música ao vivo, leitura de textos censurados, projeções, contextualização histórica e textos censurados. Um destes textos é Reportagem de um Tempo Mau, de 1965, de autoria do artista santista Plínio Marco e ainda desconhecido do público.
Além de celebrar autores perseguidos pelo regime, o espetáculo busca ampliar o debate sobre os mecanismos de censura e sua presença ainda na contemporaneidade, trazendo à tona o acervo do Arquivo Público Estadual Miroel Silveira, que reúne não somente os textos censurados, mas também os prontuários dos processos de veto às peças.
Liberdade de expressão
A intenção é colaborar com a preservação da memória cultural do país, assim como a conscientização do público sobre a importância e o real sentido da liberdade de expressão.
“Entendemos que essa discussão ainda é necessária, sobre o que é de fato a liberdade de expressão. Existe uma dificuldade de compreensão também sobre o que foi a censura e de que formas ela continua acontecendo hoje. O espetáculo vem atualizar essa discussão, tocar em tabus, usando a arte como pano de fundo”, pontua Natália.
A montagem também será apresentada no dia 3/9, às 20h, no mesmo espaço, dentro da programação da Mostra Regional do FESTA 67 – Festival Santista de Teatro, o mais antigo festival teatral em atividade no país, criado em 1958 por Patrícia Galvão, a Pagu.
O coletivo
O Coletivo (a)gente surgiu em 2018 formalizando uma parceria de longa data entre Natália e Erik Morais (artista multidisciplinar e educador) nas áreas de criação e formação artística em linguagens integradas. Tem sede no Jibóia Ateliê, no Centro Histórico de Santos.
No encontro entre as artes visuais, teatro e literatura, o coletivo investiga a intervenção urbana e as linguagens artísticas como dispositivos relacionais. Ao longo de toda sua trajetória, atua em parceria com artistas diversos, em ações artísticas e formativas que experimentam a intervenção urbana com públicos diversos.
Entre os trabalhos desenvolvidos pelo grupo, estão: “Invasões Poéticas”, com diversas ações e intervenções na cidade, em parceria com poetas locais. “Invasões Poéticas: Vozes Femininas”; “Pouca Farinha Muito Mar”; “Na Flor D’água”; “Invasões Poéticas: diálogos sonoros-visuais”, em parceria com o músico Kuaray O’ea; e o mais recente, “Vozes Veladas”, que contou com aberturas de processo no Jibóia Ateliê, em agosto de 2024, por meio do FESTA 66.